segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O poder desnudado

O jovem D. Filipe, IV de Espanha, III de Portugal, encontra o paraíso nos braços da cortesã Marfisa. Saber-se-á por palavras desta que o soberano não o é em amores e que ao quarto ensaio nem chegou a arrancar. Mas também se saberá que tem potencial e que mais uns tantos encontros lhe ensinariam a agradar mulheres.

Seja como for, a perfeição para o rei foi o corpo nu da cortesã adormecida. De regresso ao palácio e guloso de beleza, faz a rainha saber que deseja vê-la nua. A novidade tem pavio curto e em breve todo o reino a comenta. E se o povo não acha nisso nada de mais, já na corte soa o alarme para as consequências que tamanho pecado teria nos destinos de Espanha. Deus não perdoa desaforos.

Com fina ironia, vocabulário original e narrativa escorreita Ballester apresenta-nos os argumentos e enredos com que clero e nobreza pretendem evitar ou promover o que para uns é pecado e para outros o simples cumprimento da natureza. As lutas de bastidores, as intrigas, a ânsia de poder, as solicitações de autos de fé são os mesmíssimos na corte dos Áustrias como em qualquer grupelho político desses em que hoje votamos.

Título: Cronica del Rey Pasmado
Autor: Gonzalo Torrente Ballester
Data da obra original: 1989

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